ELE NÃO ME ASSUME

ELE NÃO ME ASSUME

Centro cirúrgico preparado, paciente apreensivo, rituais de verificação da assepsia do ambiente, porém, o anestesista não tinha chegado, com certeza, algum problema tinha impedido ele de honrar seu compromisso no centro cirúrgico. A gravidade da situação do paciente sugeria que mesmo assim fosse feito o procedimento, em meio a dor, era preciso começar. A hemorragia interna comprometia severamente a vida daquela pessoa que agonizava à bastante tempo.

Na verdade, no lugar do bisturi a fala faria os cortes precisos e necessários naquela pessoa que já agonizava durante anos, com uma emoção enraizada em suas vísceras. O procedimento seria retirar a esperança que estava alojada na alma, mas, espera aí a esperança pode fazer mal a alguém?

Em várias situações é graças a esperança que o sujeito consegue enfrentar as adversidades da vida, por exemplo, o sujeito está enfermo e graças a esperança encontra motivos para lutar contra a doença. No entanto, costuma também a esperança transformar-se em teimosia, a dificuldade da pessoa perceber que passou de suas limitações, ou melhor, reconhecer que não tem sido prudente manter a espera de algo que já se foi ou de que nunca aconteceu.

O medo é parceiro da esperança, assim ela tinha esperança de encontrar o grande amor de sua vida, porém, sobrava medo de não realizar seus sonho.

Ao esperar além da conta a pessoa des-espera, ou seja, a esperança vencida atrapalha mais do que ajuda. Uma das tarefas mais difíceis do terapeuta é cortar na medida certa a esperança, sem danificar outros órgãos da emoção. A pessoa passou uma vida toda esperando que o amante assuma o relacionamento, entretanto, sempre surge uma nova desculpa de que aconteceu algum problema, seja a doença do filho, a crise econômica ou a saúde da mulher.

A esperança adoecida faz a pessoa não perceber ter cometido o autoengano, distorce a percepção e enxerga apenas o que lhe convém. Quando a esperança saí de cena, de repente a pessoa também abandona o medo. Assim, quando precisar lidar com o medo, em tese, tem que mexer na esperança. Se você tem medo demais, talvez sua esperança tenha tornado teimosia, nesse instante, claro aprender a perder e deixar ir o que nunca lhe pertenceu é a saída.

Por fim, relacionamentos precisam da esperança saudável, quando essa torna-se teimosia é preciso trazer à pessoa de volta a realidade, aliás mostrando que ela só tem, de fato, aquilo que nunca dependeu do “outro”, ou seja, sua dignidade emocional.

Marcos Bersam

Psicólogo

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